Vão-nos comendo o imaginário...
Se a minha vida fosse uma encenação a Arrábida seria certamente o pano que, "lá atrás", serviria de cenário...ali cresci, ali vivi...ali pisei pela primeira vez a areia branca da praia...ali, pela primeira vez provei o sal no seu estado mais puro...
A Arrábida faz parte não só do meu imaginário, faz também parte da minha vida...das nossas vidas...das vidas de gente que aqui vem a este blog...gente, a Arrábida é a cortina que temos no lado sul dos nossos quintais e das nossas ruas sempre que saímos de casa...quem não "é" da Arrábida, quem não a tem no seu imaginário como eu, quem não a tem como um bocado seu também certamente não a esqueceu...se algum dia a viu...
A serra mãe, como Sebastião da Gama (poeta de Azeitão) lhe chamou, nasce em Setúbal e dá o seu último suspiro no cabo Espichel, onde finalmente se rende ao mar...
As imagens que vejo ao fechar os olhos são as do ponto de vista fenomenal que, a partir dela, temos sobre a península de Troia...a serra é o primeiro miradouro sobre a costa alentejana...passamos o conveto onde vemos as suas guaritas montarem uma sentinela de séculos, como se guardiões silenciosos zelassem pela paisagem...descemos à esquerda e ao olharmos para a direita percebemos porque esta é a única serra que abraça verdadeiramente o mar...pois o Risco ali está, como ponto mais alto da costa portuguesa, assinalando milhões de anos de luta entre a Terra e o Mar que a àgua foi vencendo aos poucos, tornando um monte como outros numa ravina de mais de 200 metros que cai na vertical sobre o Atlântico...antes de chergar-mos ao Portinho descemos uma escadaria que "desemboca" na Lapa de sta. Margarida, uma gruta com um altar em madeira e que se abre a Sul para o azul marinho...
Podemos ver os raios de luz fugirem pela serra enquanto tomamos um café ao fim do dia na praia...a areia resplandecente e a àgua cristalina tornam-se subitamente mais escuras por causa da sombra que a serra lhes faz...
Isto é a nossa Arrábida, as nossas praias, as nossas águas tranparentes, a nossa única floresta mediterranica em Portugal...isto é a nossa Arrábida...não será?...
...parem as escavadoras
com esses dentes de metal,
essas barulhentas devoradoras
do imaginário ideal...