Entrei numa estrada sem fim,
estou exausto e sem forças...
As correntes amarradas a mim tiram-me vontade de continuar...
Algo com bicos se crava no meu coração...arrasta-me para o fundo do mar,
sem dó...sem compaixão...
É uma estrada submersa,
É escuro, não se vê...não se ouve...
Não se sente...
As pernas tremem de frio, de cansaço, de horror...
...não se vislumbra luz ao fundo...
Vejo olhos vermelhos de lado,
Demónios que me chamam, chamam...para bem fundo...
para bem longe...
Não me podem puxar mais baixo,
há muito tempo que toquei nos limites da profundidade mental e consciente...
Há muito tempo que o inconsciente se apoderou do meu Ser,
da minha vida, do meu existir...
Existir? Já nem sei o que isso é...
Existir és tú! Existir são os outros! Existir é viver...
Existir é gostar de nós próprios...
Existir é aquilo que não sou há longos invernos...
ao frio, à chuva, ao vento, à neve...
Todo o meu corpo gelado, sem sangue, sem temperatura...
sem alma...
E as lágrimas que choro formam gelo na minha face,
e os gritos que dou formam ecos no abismo,
e as gargalhadas que ouço...formam ódio na minha mente...
E a felicidade que tive partiu com as andorinhas no Outono...
E o amor que sentias partiu no calor para o Deserto...
As palavras que dizias ao sabor das ondas...morreram na espuma contra as rochas...
E o coração que tinhas nas mãos...deixaste-o caír de um penhasco...
E a dor atingiu-me o peito...a alma...
E afinal toda esta caminhada sobre a estrada infernal tirou-me força...
Tirou-me do teu coração...
Tirou-me da vida...
E não tem saída
… (algures no ano 2001)