segunda-feira, junho 05, 2006

No canto da vida

Estou exactamente no mesmo sitio do vento gélido de Novembro…mas agora o céu cinzento e a chuva dominam todas as sensações térmicas do meu corpo, insensível ao fogo, insensível ao gelo, como se estivesse há muito morto e abandonado a um canto da vida. Estou numa fase indefinida, onde constantemente procuro uma aberta na imensidão das nuvens, mas ao mesmo tempo a escuridão do tempo faz-me sentir igual a mim próprio, negro, carregado, obscuro, saturado por dentro, onde as nuvens da minha consciência constantemente provocam precipitação sobre os meus olhos, escorrendo pela minha face, reflectindo algo que não está lá mas que frequentemente visiono como algo ou alguém bem presente, bem real, que me acompanha mas que desconheço…algo ou alguém que controla a meteorologia do meu ser, tornando-me cinzento ou azul, transparente ou opaco…claro ou misterioso…não sei quem sou! Mais que nunca, não sei se existo…o EU de ontem não é o mesmo de hoje…e o que mais me assusta é não saber qual deles serei amanhã…
Farto de lutar em busca de não sei o quê, em busca de não sei quem, deixo o meu corpo a um canto da vida, juntando agora também a minha consciência, a minha alma, o meu ser indefinido…não por resignação, mas por mudança de atitude…exausto de uma procura sem fim tento agora observar a partir do meu canto tudo o que se passa no centro da vida, tentando sem esforço aquilo pelo qual esgotei as minhas forças…tentando encontrar em mim algo a que possa chamar EU…porque do sitio onde um dia o vento me gelava a face apenas vejo agora as lágrima do céu caindo sobre a terra, chorando talvez por não poder abraçar o mar…chorando talvez por não poder abraçar algo de concreto…chorando talvez porque já não posso sentir tudo o que sentia…o fogo…o gelo…
Inerte já não sou ninguém…inerte apenas me limito a ver passar tudo em meu redor…tão perto que me apetece fazer parte…tão longe que ao estender o braço apenas o vazio me abraça, me aperta, me sufoca, até me estrangular de ânsia…até me estrangular de medo…até me estrangular de solidão…

Só, já não tenho razões para me levantar, serei eternamente um “à parte” da vida…eternamente serei apenas este pequeno canto…eternamente…eternamente…eternamente…este é o som que todos os dias me consome…repete-se vezes sem conta…em mim, apenas o eco da vida faz efeito, reflectindo-se nas paredes do meu ser, reflectindo-se nas paredes do meu mundo, soando cada vez mais alto na minha cabeça…talvez por estar a um canto, onde este eco se torna insuportável, repetindo em mim aquilo que não quero ouvir…

…e o barulho desta chuva irrita-me! e o toque desta chuva inflama-me os olhos! e o sal desta chuva prende-me a face numa expressão sem expressão! num sentimento sem sentimento…numa vida sem vida…num EU sem MIM…

…sem expressão…
…sem rosto…
…a um canto da vida…

1-4-2002

11 Comments:

Blogger Principessa said...

continuo a pensar que devias enviar os teus textos para uma editora...

3:19 da tarde  
Blogger lagarto said...

continuo a pensar k são textos isolados...ngm lhes pegaria...

3:28 da tarde  
Blogger lagarto said...

mas obrigado pelo elogio de achar que isto merece ser publicado

3:29 da tarde  
Blogger Wisper said...

tenho a mesma opiniao da principessa... nunca saberás se não tentares...

beijinhos

2:10 da tarde  
Blogger SONHADOR said...

Estou com a principessa.
Devias mandar os teus textos a uma editora.

1 Abraço.

11:03 da manhã  
Blogger jomaolme said...

Bem, isso pode ser ou ter sido uma fase de transição da tua vida!!!

O texto está muito bom!!

Beijokas

11:18 da manhã  
Blogger Visconde said...

Sim senhor, temos escritor !!!
Grande abraço

2:31 da tarde  
Blogger Azeitoninha said...

Temos escritor :)

Espero que te encontres :)

Gostei muito do teu blog :)

2:43 da tarde  
Blogger lagarto said...

a todos akeles k tão a incentivar:

se tiver um verão descansado vou passar a computador td o k tenho escrito para tentar a mha sorte=) digo isto pk o verão passado tive um trabalho de projecto pa entregar no exame de setembro e nem na praia eu estava descansado.

jomaolme:

foi sem dúvida a fase em k mais mudei...confesso até k o k me aconteceu me mudou para pior na altura, mas toda a merda k fiz então, foi remédio santo até agr...chama-se crescer, penso eu...

zélia:

akilo foi escrito em 2002, encontrei-me tempos dpo, mas ñ totalmente...ñ creio k alguém durante a sua vida desista de uma constante busca...k alguém se encontre completamente, até pk as circunstâncias estão smp a mudar...posso dizer k desde essa data e dpo de mtas cabeçadas, acabei por encontrar grande parte do k me faltava=)
e obrigado por teres gostado do blog*

voltem smp!

8:13 da tarde  
Blogger poca said...

é... ficção ou realidade não sei, mas gostei...
é fácil de nos identificarmos com o qu eescreves... revemo-nos nas tuas palavras...
e sobre o que falas...
é uma fase, vai passar...
de um canto passa-se sempre para o meio do palco :)
beijinhos e obrigada por me teres trazido ao teu cantinho...

12:14 da manhã  
Blogger lagarto said...

poca, foi uma fase real mas k aconteceu há 4 anos, passou há mto tempo...obrigado pela visita, volta smp

2:09 da manhã  

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