quarta-feira, maio 31, 2006

Moldar-nos

Vejo nuvens abraçando a serra
Onde o azul do mar se funde em castanho terra

O sol rasga o cinzento
Neste típico dia de Inverno
Vêm-se os raios definidos no seu comprimento
Agora é tempo de bonança, passou já o inferno

Sabes como tens de gostar de mim
Sei como tenho de gostar de ti
Somos como duas mãos diferentes que se dão
porque a carne se molda entre si…

Não queremos ceder
Mas acabamos por o fazer
Porque ceder não é sinónimo de mudar
Ceder é sinónimo de amar

Porque sol e nuvens habitam o mesmo céu
Uns dias chove e noutros faz calor…
Como hoje em que ele espreita por entre elas,
porque se moldam, porque existe amor…

Sabes que a água sempre foi água
E terra sempre foi terra!
Mas elas namoram há milhões de anos na mesma margem
numa subtil mas linda guerra

Cada vez que o mar desgasta a sua terra
vai encontrá-la noutra forma, mesmo longinquamente
porque eles não mudam, mas moldam-se
como a carne das nossas mãos se encaixa perfeitamente…

domingo, maio 28, 2006

VEJO-VOS

Sinto-me observado no cadafalso
Olhos miram esperando o som do tambor
Ao fundo um fraque com laço
Grita “matem já sem amor”!

Estou no centro de uma praça
Mas ainda mais no centro do maldizer
Sinto aproximar-se a desgraça
Apontam os dedos para o que vai morrer

Chamam-me coisas que não sou
Dizem coisas que não fiz
Alguém decidiu para onde vou
O porquê? Ninguém me diz…

O carrasco aproxima-se
Passos pesados no estrado
O pó das tábuas eleva-se
O assunto está arrumado

O tambor toca e embala
Toca um rufo para parar
A corda estica-se à velocidade d`uma bala
A espinha verga até quebrar

Ecoam palmas no recinto
Como se o palco fosse de teatro
Recolhem o corpo que já não sinto
Metem-no numa vala com outros quatro

Gente como eu não merece
Nem uma lápide a assinalar
Mas um condenado nunca esquece
Quem o apontou para finar

A lápide de pedra fria
Assinala o gelo do corpo a apodrecer
O meu sepulcro arde de dia
Com raiva de quem ri com o meu desaparecer

Afinal não quero talhão nem cova
Não quero mármore branco do mais pobre
Deixem-me ficar onde ninguém me estorva
Deixem-me ser poeira do céu que vos cobre

sexta-feira, maio 26, 2006

Tiros pela Culatra

Sabem como é fechar um punhado de água na mão?
É querer reter algo em vão…

Rebolar na praia de boca fechada
e ainda assim a areia entrar…

Fechar os olhos para adormecer
e despertar ainda mais quando pensamos no que há a fazer…

Parece que atravessamos os caminhos duas vezes,
primeiro para o minar e depois para o detonar…

É minar-nos por dentro quando dizemos
e a outra pessoa não entende da forma que queremos…

Vocês sabem como é amar…
Apertar de carinho e sem querer, sufocar…

É estar a morrer de sede e começar a chover
E no entanto não há copo para beber…

É sair-nos tudo mal quando pensamos bem
É querer tudo e ficar sem ninguém…

É minarmos o que temos de bom por querermos perfeito,
Exigir a quem não temos direito…

Fazer a coisa certa para depois a desvanecer…
Em milhões de atitudes que a deitam a perder

Sabem do que estou a falar…
É quando queremos viver e acabamos por matar…

terça-feira, maio 23, 2006

AULA RURAL

Ora bem, no seguimento de coisas que ouvimos, tipo: os ovos vêm do super-mercado e o leite vem do pacote decidi, como bom cidadão que sou, lutar pela justiça de duas partes integrantes do nosso eco-sistema.
Lutarei pela justiça das crianças que não merecem ser mais enganadas e pela honra e dignidade do Pirilampo! É verdade, do Pirilampo...
Eu falo de crianças porque elas é que são enganadas pelos adultos, se bem que, adultos há que não destiguem uma sardinha de um tubarão, quanto mais saberem o que é um Pirilampo!
Meus amigos, um Pirilampo não é isto...









...e o seu habitat não é o tablier do automóvel! Caso, pessoal da cidade, não reconheçam a próxima planta, ela é o que dá o óleo e as pipas (aquilo salgadinho que se comia dantes e se cospia a casca, lembram-se?) e tem o vulgo nome de Girassol! Amarelinho hã?que classe...bem, o Girassol e outras flores é onde se alimentam os Pirilampos e, como podem verificar lá andam uns insectoszinhos a papar na planta, vêm?










Neste momento deve haver gente a jurar a pés juntos que o Girassol vem dos papagaios...adiante.
O verdadeiro Pirilampo, aquele que é mesmo mágico, tem no seu "rabo" um conjunto de químicos para atraír as Pirilampas que, chegada a altura do acasalamento, entram em reacção uns com os outros, provocando aquilo que o torna um insecto mágico! Exactamente, também é verdade, os Pirilampos piscam mesmo uma luz verde fluorscente que não se vê na foto seguinte porque, como é óbvio, a luz do dia é muito intensa...mas vê-se à noite!










Cá está o belo do Pirilampo, com a cabecinha vermelha (há outros bichos com esta caracteristica) e pronto para ir Pirilamparar a mulher alheia...

segunda-feira, maio 22, 2006

O Cocas sabe-a toda!

sexta-feira, maio 19, 2006

A BELA E O MONSTRO

Alguma vez folhearam um livro de arquitectura? Façam-no, é um prazer saber que há lugares que podemos percorrer e que parecem telas pintadas por grandes mestres. Fiz recentemente um trabalho acerca das piscinas munícipais de Campo Maior, da autoria do Arq. Carrilho da Graça. É uma obra lindíssima sobre o ponto de vista conceptual e espacial mas como é óbvio não posso estar aqui a falar de tudo o que depreendi acerca da obra, seria muito extenso.
Uma pequena ideia a ter em conta é que o conceito para as piscinas passa por emoldurar a vila de Campo Maior e a paisagem muito horizontal do Alentejo...












Bela, não é? Reparem como os elementos brancos emolduram a paisagem longinqua...

Apresento-vos agora o Monstro, aquele que conheci...









Reparem como o que poderia ser um quadro lindo de paisagem com duas ou três casinhas brancas alentejanas se transforma nestes dias de trabalhos numa janela normalíssima onde a moldura é dada pelo balde da esfregona e o pano de limpar...e esperem! Reparem no pormenor delicioso na foto de baixo! Vêm? Um acrílico posto por não sei quem com umas letras pintas com trincha a dizer "restaurante ibérico"!
É a loucura meus senhores, a loucura...não há respeito por quem cria! Já alguém viu a Mona Lisa ou a Capela Sistina nestes propósitos? Então porque é que o Arquitecto tem de levar com estes salpicos na sua tela?

Conclusão? Visitem muitos lugares arquitectónicos como este, mas quando toca a fotografias, vão buscá-las aos livros!

segunda-feira, maio 15, 2006

MIRAGEM

Não sei quem sou nem onde estou
Não sei se existo ou se me lembro por me terem contado
Não sei o rumo que o meu corpo tomou,
O deserto sem fim põe-me cansado

Não sei se sou a pele cor de areia
Se a sombra que me acompanha na viajem…
Serei a ilusão que a todos nos rodeia?
Acho que neste deserto, sou apenas uma miragem…

terça-feira, maio 02, 2006

Sempre do mesmo

Parece que cada dia me custa mais levantar cedo para, invariávelmente, percorrer o mesmo caminho.
O dia-a-dia não é motivação, apenas obrigação. Pergunto-me se estou desmotivado ou desinteressado e enquanto o trânsito me detem numa fila os rostos nos outros carros vão respondendo à minha dúvida. Rostos resignados com o que a vida lhes reservou.
Gostava que no meio de tantas sondagens alguém fizesse uma para tentar descobrir afinal quantos portugueses fazem aquilo que gostam...quantos deles ouvem uma palavra de reconhecimento pelo que fazem...quantos deles trabalham para trazer algo ao Mundo e não só pelo ordenado...porque uma coisa é certa, os rostos que vejo de manhã nas filas de trânsito estão ainda mais carregados quando os vejo nas filas ao fim da tarde, e isso meus amigos, isso nunca foi nem nunca será sintoma de um dia produtivo que encheu de orgulho quem de madrugada se levantou para mais um "dia-a-dia"...